Diário de Bordo da Josephine

Desde que tenho a minha Keeway Superlight 125, andava a congeminar uma aventura. As primeiras viagens para o trabalho foram uma espécie de tirocínio à "tropa especial", cerca de 30 quilómetros para cada lado, incluindo o IC 19 em dias frios e de muita chuva.
Mal os dias secaram, se alongaram e o sol despontou com mais frequência, pensei em passeios mirabolantes de muitos  e deliciosos quilómetros, mas a necessidade de outro trabalho aos fins de semana me fez esperar. O primeiro evento motard foi a 6 kms de casa. Cheguei discreto, antes da hora do início para ter lugar para estacionar. Travei conhecimento com o motard que estacionava ao meu lado, assim de uma forma tão espontânea, que logo ali tomei contacto com aquela "Irmandade Motard" da qual tinha ouvido falar. Fui cumprimentado como se fosse um companheiro de muitas luas, como se já tivéssemos rodado juntos. Gostei da minha primícia!
Comecei a olhar com mais atenção para o calendário dos eventos. Aniversários, inaugurações de sede, churrascos, ou simples pequenos almoços! Pois é, mas o dinheiro não estica!
Um amigo de outras vidas convidou-me a visitar a sua casa e ter o aval científico do seu filho mecânico sobre a minha Josephine. Aceitei e agradeci!
Foi a minha primeira aventura! Para ir a Cascais fui directo ao Ramalhão e "esguinei" para a Lagoa Azul em direcção à Malveira. Maravilha!
Subi a Serra de Sintra acompanhando com o olhar todas as paisagens maravilhosas e nesse momento senti que se viajamos de moto, fazemos parte da paisagem. Queria parar para tirar fotografias, mas não tive coragem de interromper o meu sonho! Foi a minha primeira aventura!
Depois de consumada a consulta da Josephine pelo amigo mecânico, a minha pendura ligou-me pedindo ajuda no nosso "metier" de fim de semana para ajudar nas despesas e lá rumei a Alcântara para as minhas obrigações. Rodei nesse dia cerca de 95 kms. Feliz, muito feliz!
Foi exactamente porque parei um sonho que deixei o tabaco. Ia para o trabalho num dia de chuva, aqueles 30 kms diários de húmida folia e parei numa área de serviço para fumar. Mau! Estava a gostar da viagem (mesmo com chuva) e parei por causa desta porcaria? Fumei esse cigarro, mas foi o último!
Venha de lá a Primavera para fazer uns passeios longos e orgasmicos!

27-02-2023
Não consigo explicar e estava longe de imaginar que uma pessoa possa apaixonar-se por uma máquina! Não obstante ter nome de mulher, a Josephine é uma moto 125 cc.
A ideia de comprar uma 125 para me deslocar para o trabalho, surgiu porque já tive uma motorizada,  uma scooter Piaggio e serviam apenas para me deslocar. Não era bem a minha praia! Frio, chuva e umas quedas... Não, secadores de cabelo não!
A vontade foi-se arrastando no tempo e só há poucos meses decidi (com um empurrãozinho da minha pendura) comprar uma moto e ter sempre onde estacionar a minha viatura!
A mudança de local de trabalho foi uma das alegadas razões, acabou por ser um ponto de partida! Pensava eu que me deslocaria para o trabalho e outros destinos de uma forma mais ... ruidosa, imponente, mas não! Fiquei altamente apaixonado, ao ponto de a minha mulher me dizer que não falava em mais nada senão em motas!
Eu, que condeno os fanáticos da bola, que só sabem falar de futebol e mesmo assim só falam do seu clube... senti-me ridículo, igual a eles!
De segunda a sexta-feira monto a Josephine duas vezes por dia e mesmo o curto trajecto de 5,5 km para cada lado, é de prazer. Vou devagar para que a viagem dure mais tempo. Ao fim de semana quando estou em família chego a ter saudades da moto. Sim, nunca eu imaginei que isto viesse a acontecer!
Se ouvirem falar no "bichinho da moto" não se admirem porque ele existe mesmo!
Já tenho uma pulseira que imita a corrente da moto, um blusão de ganga ao qual arranquei as mangas e cosi emblemas. Comprei botas e casacos, capacete de Verão e de Inverno, Luvas está a ser um fetiche!
Parece impossível!
É sim, é uma paixão enorme, qualquer dia a mulher foge-me com ciúmes!